Marco da educação no estado, Casa do Estudante de Pernambuco foi fundada por estudantes idealistas nos anos de 1930
O músico Capiba e sua Jazz Band Acadêmica ajudaram a construir, nos anos de 1930, em Recife, a Casa do Estudante de Pernambuco (CEP). Parte do cachê dos shows realizados pelo nordeste era doada para a construção da CEP cujo terreno, no Derby, foi doado pelo governador Carlos de Lima Cavalcanti. Em 1931 nascia o projeto da Casa do Estudante de Pernambuco a partir de um grupo de estudantes idealistas da época integrantes do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina.

Jazz Band Acadêmica com Capiba ao lado do baterista (quarto da direita para à esquerda)
A Jazz Band Acadêmica de Capiba, formada há pouco tempo, juntou-se aos idealistas. Com recursos conseguidos com a realização de bailes, festivais e campanhas com listas de doação arrecadou-se dinheiro para a construção. Enquanto o prédio não ficava pronto no Derby, o grupo implantou, em 1936, a sede da entidade em um sobrado na Rua Gervásio Pires, 333, centro do Recife. Em 1938, o prédio da CEP ficou pronto, sendo inaugurado em 21 de setembro do mesmo ano.

Prédio da CEP após a inauguração em 1938 (foto: arquivo biblioteca Casa do Estudante de Pernambuco)
Atualmente, a Casa do Estudante de Pernambuco é uma organização social sem fins lucrativos e realiza um trabalho de empreendedorismo educacional com acolhimento e assistência aos estudantes vindos do interior do Estado para estudar em Recife. Um total de 200 jovens são atendidos pela instituição recebendo benefícios como moradia, alimentação e assistência odontológica.
Aprovado em primeiro lugar de aluno de escola pública no curso de medicina da Universidade Federal de Pernambuco agora em 2021, José Gustavo Araújo, 21 anos, veio da cidade de Tabira para estudar em Recife. Filho de uma dona de casa e de um vendedor de loja de construção, ele é morador da Casa do Estudante de Pernambuco. “A Casa foi tudo para eu chegar onde cheguei. Só tenho a agradecer” conta Gustavo sobre a maratona para conquista da vaga em medicina.

Estudante José Gustavo Araújo aprovado em primeiro lugar aluno de escola pública em medicina na Universidade Federal de Pernambuco
Somente de 2020 até o primeiro semestre de 2021, a Casa do Estudante de Pernambuco contribuiu com a formação de um total de 40 estudantes vindos do interior, cinquenta por cento deles formados em medicina. Entre os formandos estão também farmacêuticos, engenheiros, biomédicos, arquiteto, fisioterapeuta, enfermeiros e um educador físico.

Wisklley Guimarães é estudante de engenharia da Universidade de Pernambuco e atual presidente da CEP
“Quando nossos estudantes sócios se formam começa uma etapa em que eles contribuem com a sociedade pernambucana ao voltarem para a cidade de origem, passando a atender a comunidade local e da região” explica o presidente da CEP e estudante de engenharia Wisklley Guimarães.
Uma das formaturas mais esperadas para 2021 é a do sócio morador da CEP e estudante de medicina Wellington Gomes. Ex-cortador de cana vindo da cidade de Ribeirão para estudar em Recife, ele ganhou destaque após ter sua história contada nas redes sociais e na televisão. Wellington perdeu a mãe em decorrência de complicações do diabetes no período em que se preparava para o vestibular e por isso decidiu ser médico.
Sócio morador da CEP, Wellington reconhece a importância da instituição para quem vem do interior em busca dos seus sonhos. “A Casa do Estudante é uma das instituições que historicamente mais ajudou a transformar a vida dos pernambucanos. Somos gratos a todos que ajudaram a solidificar essa grandiosa instituição” ressalta.

Wellington Gomes e o pai em foto para álbum de formatura (Foto: arquivo pessoal)
CASA MÃE DE INTELECTUAIS

Waldênio Porto (terceiro da direita para a esquerda) e Marcos Magalhães (primeiro à direita) nas comemorações de um dos aniversários da CEP
Ao longo dos seus 90 anos, a Casa do Estudante de Pernambuco formou gerações de jovens que se destacaram na sociedade. Entre esses nomes estão o ex-presidente da Philips para América Latina Marcos Magalhães que veio de Sertânia para estudar engenharia no Recife e o médico, escritor e ex-presidente da Academia Pernambucana de Letras Waldênio Porto (in memoriam) que foi morador da Casa e escreveu a história da instituição no livro “As Vinhas da Esperança – Memória de Um Xepeiro.”
O jornalista, professor e escritor Potiguar Matos (in memoriam) também faz parte dessa geração. Ele foi sócio e presidente da CEP ao vir de Pesqueira estudar em Recife. Em 1944, último ano da sua gestão iniciada em 1943, ele definiu a Casa do Estudante de Pernambuco como o lugar “onde acontece a luta de jovens pobres, armados tão somente com a inteligência e a coragem, que chegam, lutam e vencem.”
As comemorações dos 90 anos da CEP vão acontecer durante todo o mês de agosto e no dia 24, data do aniversário. As atividades vão acontecer de forma diferente por conta da pandemia utilizando principalmente plataformas online. O marco das celebrações é o lançamento de uma campanha em vídeo chamada “Conhecimento Transforma” com distribuição nos canais digitais da instituição e de uma placa comemorativa com a turma dos formandos de 2020 e 2021 (veja o vídeo abaixo). Mensagens de estudantes sócios e ex-sócios também serão publicadas nas redes sociais da instituição e um evento online vai homenagem os aprovados no vestibular, os formandos e pessoas que contribuíram com a Casa.